sexta-feira, 11 de março de 2011

Filmes Favoritos - Os Incompreendidos.

Totalmente libertário, tanto cinematograficamente quanto ontológico, Incompreendidos é a obra máxima de Trouffaut, e é seu longa de estréia. um dos inaugurantes da novelle vague francesa, e obra de muita importancia para a sétima arte. não vou me ater a toda essa importancia tanto histórica quanto técnica etc, mas sim ao que o filme representa para mim. primeiramente, Truffaut nos presenteou com duas das cenas mais belas do cinema em um só filme; a de abertura e a do fim. a de abertura, um "travelling" por Paris filmando a cidade de um angulo jamais esperado, bairros desconhecidos e em meio a telhados e becos, ao longe vemos a Torre Eiffel. é estonteante, ver tal monumento universal deixado no segundo plano, "desvalorizado", não idealizado, mas mostrado como simples objeto do cotidiano. digna de nota também é a trilha sonora, maravilhosa, de Georges Delerue, que inclusive ganhou alguns importantes premios. O jogo de câmera privilegia o real, com cenas fixas e sem muitos cortes, plano sequencia, para valorizar o aspecto de liberdade nas ruas, que contrastam com os ambientes claustrofóbicos e sufocantes da escola, o apartamento, etc. o filme irá acompanhar a trajetória de Antonie Doinel, garoto de 12 anos (se não me engano) durante um periodo crucial da infancia, primeiras experiencias sociais, etc. o filme pode ser entendido como a simples história de mais um garoto reprimido a priori , mas é muito mais, é um estudo antropológico e social fantástico. Truffaut coloca a personagem diante de quase todos os aparelhos do sistema e tece uma critica a cada um deles, ao seu autoritarismo, hierarquia e hipocrisia, como o professor hierarquicamente privilegiado na instituição e totalmente repressor aos garotos, como quando acusa Doinel de plágio pelo seu dever balzaquiano e muito bem feito, ou o castigo que é imposto no mesmo pela foto de uma pinup. essa série de agruras e humilhações que a personagem passa disseca todo um funcionamento do sistema social, e como ele tenta moldar o homem e aliená-lo.


 se ele é criança, jogam-no na escola, se vaga pelas ruas, vai para a prisão e ou reformatório... ou seja, mostra como os "não-adaptados", as "peças quebradas" são facilmente depositadas e remontadas para se tornarem mais uma pequena engrenagem da máquina social. sem falar na familia, que Truffaut mostra como é coberta de relações falsas, hipócritas e autoritárias, a mãe(esse simbolo tão importante para todo e qualquer estudo piscológico e sociológico) que trai o marido, faz descaso do filho, abusa da hierarquia familiar e que cria uma mascara de aparencias social em relação a situação do filho. E assim o filme segue contrastando cenas de liberdade e confinamento, todas essencialmente importantes para a absorção da idéia principal do filme. A cena final considero um protesto de Trufaut contra tudo isso, é a materialização da idéia sartreana de liberdade, a luta do individuo de forma inconsequente pela mesma, disposto a lutar de forma contundente, que leva a um resgate do sentido instintivo humano. uma obra prima sem duvida, isso tudo sem citar as inovações técnicas de truffaut, sua busca por uma simplicidade de imagem que garante uma maior proximidade com a realidade, uma leveza e eficácia de filmagem, realmente primorosa.