quinta-feira, 2 de junho de 2011

Drops* - Encontros e Desencontros

a triste decepção que havia tido com Sofia Coppola após assistir "Maria Antonieta" reverteu-se em respeito enquanto assistia a "Encontros e Desencontros". o Filme traz a bela Scarlet Johansson e Bil Murray no elenco. é um sátira inteligente da ocidentalização da cultura japonesa, um retrato da subversão de uma cultura milenar pela invasão norte-americana. o enredo é envolvente e o desenrolar do relacionamento de Scarlet e Bil é ótimo. vale a pena conferir.

Pedro Almodóvar e Luis Buñuel

Os Espanhóis Luís Buñuel (1900 - 1983) e Pedro Almodóvar (1950 - ) tem muito em comum.Conterrâneos, não-conformistas e polêmicos, ateus, reacionários contra qualquer tipo de repressão, e o mais importante, ambos grandes gênios do cinema mundial.
A influência de Buñuel em Almodóvar é enorme, constantemente é homenageado nos filmes de Pedro. como no filme que marca o amadurecimento do diretor, Carne Trêmula. Almodóvar consolida sua estética e seu estilo narrativo contundente, perfeccionista e extremamente elaborado, deixando de lado o humor escrachado e os personagens bizarros de seus filmes anteriores. em Carne Trêmula Almodóvar invoca de forma magnífica, quase metafísica (citando as palavras de certo critico de cinema) uma cena de Ensaio de um Crime de Buñuel, fundindo por instantes os dois filmes, criando uma pequena ponte dinâmica entre eles na cena do tiro no quarto que atravessa a janela e termina na cena de Ensaio de um Crime. em "Matador" Buñuel faz uma espécie de releitura de Ensaio de um Crime (óbviamente percebe-se que Almodóvar ter enorme apreço por esta obra esquecida de Buñuel, como ele mesmo já declarou ser um de seus filmes favoritos.) Na ultima obra de Almodóvar, "Abraços Partidos" (los abrazos rotos), percebi certas aproximações com "O Alucinado" (El) de Buñuel que são incríveis.

"O Alucinado" invade o mundo burguês da forma que só o mestre Luís Buñuel sabe, para fazer críticas insicivas e extremamente inteligentes. Em um periodo onde virou moda criticar "capitalismo" e "burguesia", é muito satisfatório encontrar personalidades como Buñuel. longe de superficial, o filme é penetrante. óbviamente essa análise não é verdade absoluta, é a idéia que eu faço de um filme aberto a diversas interpretações, mas o que julgo essencial é enxergar como Buñuel vai fundo nas causas e consequências e como ele trabalha com contrastes para acentuar a sua critica, como os mestres literários realista. Por sinal, quando assisto Buñuel não deixo de pensar em Machado de Assis, o livro Quincas Borba possui algumas cenas que se acemelham com "O Alucinado", coincidencias muito bonitas. voltando nos constrastes, Buñuel nos apresenta seu protagonista, D. Franscisco, mais que isso, ele quer mostrar a formação do mesmo, a moral cristã impregnada em sua formação, juntamente com os valores burgueses que Franscisco prega ao longo do filme. logo de início a irônia de Buñuel é transbordante.um homem de valores justos e nobres, altamente religioso, amigo próximo dos figurões da alta hierarquia da Igreja, seduz uma mulher justamente diante do altar. e o mesmo homem de caráter impecável, descobre que a mulher (Glória), é compromissada e então bola um plano para separa-lá do namorado. ou seja, um católico fervoroso que comete o adultério. isso é só o começo. após o casamento, buñuel disseca a personalidade de Don Francisco, mostrando de forma piscanalitica o produto de uma educação conservadora, rigorosa, envolta de uma esfera moral católica, extremamente rigida, que é um homem fraco, neurótico, inseguro, e finalmente, infeliz. Isso tudo se dá através da relação de Francisco com Glória, atitudes paranóicas, sem sentido e controversas, ambíguas. o relacionamento torna-se perseguição e graças ao seu poder e influência, Glória não tem  a quem recorrer. isso tudo culmina em uma cena de fotografia impressionante, na torre onde Francisco "estrangula" Glória, quase jogando-a torre abaixo. até ai Buñuel poderia muito bem ter encerrado seu filme, e já seria uma bela obra, mas, o diretor ainda tem a mostrar. o filme é também o retrato da progressão da loucura de Francisco, e no auge dessa doença mental, que reafirmo, ser o produto da repressão na formação da personalidade de um ser-humano, através da moral cristã e os valores burgueses, Buñuel nos presenteia com uma pequena cena de extrema vanguarda técnica e caráter surreal, que é o estopim da loucura de Franscisco. por fim, um desfecho de conclusão de enredo e uma ultima cena de provocação, fechando mais um filme com chave de ouro.
Abraços Partidos é um lampejo de esperança para o cinema moderno. particularmente, o melhor filme de Almodóvar, lindo. Penélope Cruz é inexplicavel, dotada de uma beleza que traga a todos. O filme conta a história de um escritor cego que usa o pseudônimo de Harry Caine, que se chama Mateo Blanco. não quero ficar preso ao enredo porque é extrermamente labiríntico então prefiro apenas ressaltantar os momentos que mais me encantam. primeiramente, voltando a O Alucinado, o filme utiliza o recurso de flashback para ajudar na dramatização do enredo, e Abraços Partidos" também usa, que na verdade é o que cria a atmosfera essencial do filme. a "sinopse" de"El" como já foi dito é,(obviamente, sinopses são resumos grosseiros mas o faço para ajudar na comparação) a história de um burguês rico que apaixona-se perdidamente por uma mulher e depois tranforma-se num paranóico extremamente ciumento, que passa a tomar atitudes agressivas e doentes para com a mulher. em Abraços Partidos Penélope Cruz interpreta Lena, bela mulher , secretária de um empresário rico e poderoso, que se apaixona pela mesma e a toma como esposa. na minha visão almodóvar faz uma transposição de alucinado em abrazos rotos, como por exemplo a cena em que Francisco agride Glória em "El", é parafraseada em abrazos rotos, onde Martel( o empresário) empurra Lena da escada. a diferença é que almodóvar descentralizou tal trama, e criou pequenos enredos-nucleos com novas personagens, e consegue de forma maravilhosa ligar tudo e problematizar de forma intrínseca todos eles. almodóvar ainda nos presenteia com cenas extremamente poéticas, belíssimas durante a fuga de Mateo e Lena, que irão se relacionar posteriormente.

O jogo de contrastes também está presente no filme. Almodovar retrata o contraste de Mateo e Ernesto através do sexo. A relação de Lena com Ernesto é uma tarefa árdua, um esforço, e após mostrar com muita sensualidade uma cena de Lena e Mateo, envolvente, dinâmica, coloca em seguida Lena e Ernesno, cobertos por lençois, sufocados, de forma extremamente fria e crua. Lena vômita após fazer sexo com Ernesto. próximo do fim o filme apresenta um paradóxo extremamente triste; a cegueira para um homem que dedicou a sua vida às imagens. novamente afirmo, não me ative ao enredo do filme devido a todo um jogo de desenvolvimento de Almodóvar, que deve ser absorvido no ato de assistir o filme, a prova empirica. também nada do que disse é compravado, é verdade. talvez Almodóvar não tenha tido a intenção de parafrasear Buñuel, mas gosto muito de acreditar nisso, pois  a Arte deve ser sempre reinventada, renovada, como disse um grande professor meu.