sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011


Darren Aronofsky é um daqueles artistas que conseguem criar seu próprio universo, suas obras habitam o mesmo microcosmo e interagem entre si. tal nível de interação entre arte e artista é rara, e muito bela. o ultimo lançamento do diretor estaduniense alcançou estrondoso sucesso, e vem talvez "chocando" pessoas que esperavam outra coisa de uma, digamos, interpretação do ballet de tchaikosvky, o Lago dos Cisnes(as jovens bailarinas que o digam). pessoalmente, o filme conseguiu me prender como poucos fazem. tem uma atmosfera densa e carregada que te puxa, e uma fusão de suspense piscológo e drama na medida exata.O filme, se em mãos de um diretor qualquer, com certeza teria caído no cliche antigo da bailarina em busca do papel de seus sonhos, para orgulhar a mãe ex-bailarina, etc... mas, Darren impregnou o filme de piscologia freudiana, junto com seus próprios recursos e senso criativo, o que resultou em cenas incriveis, perturbadoras e belas, muito longe de um filme cliche. interessante notar algumas referencias que Cisne Negro faz á outra obra de Darren, "Pi",como a cena no metrô, em que as duas personagens(dos dois filmes) vêem um senhor de idade que os "atenta". essa alucinação compartilhada pelas duas personagens explicita o tema que Darren adora, a loucura humana. todos os seus filmes tratam da loucura. Em Pi, o sua obra prima na minha opinião, a personagem principal é um matemático que busca um padrão na maior forma de caos humano, a bolsa de valores. Max é um matemático anti-social que está próximo de tal padrão matemático, e em meio a sua busca muitas reflexões nos são impostas, do nosso sistema economico até a existência de Deus. o encontro de Max com o numerólogo judeu que também pesquisa um padrão matemático, no TORÁ, é a representação de toda uma discussão de ciência e religião e, talvez, uma tentativa de conciliação entre as duas.

Nina e Max trazem diversas semelhanças, os dois de alguma forma buscam a perfeição, e é essa busca que os levam a afundarem em sua loucura, esse fardo de carregar a perfeição os fascina e os destrói. em Pi, pode-se dizer que o "nível filosófico" é maior, é um filme que leva ao questionamento da existencia, e o que está por trás dela. as notas de Max, são os elementos mais importantes para o filme, "o mundo pode ser compreendido em números", essa, porque é a partir daí que todo o filme vai trabalhar e se desenvolver, e "quando eu era criança, minha mãe disse para eu não olhar diretamente para o sol, então eu olhei e os médicos não sabiam dizer se eu iria voltar a enxergar, mas pouco a pouco a escuridão foi se dissipando e eu voltei a ver, mas algo dentro de mim havia mudado". é fundamental essa fala, que representa toda a dúvida e por consequencia busca da personagem, um questionamento que vai recebendo as respostas gradativamente, ao longo do filme, esse ato de olhar para o céu, e ver a escuridão, talvez, e só talvez, seja a grande metáfora resumidora do filme. ao longo do filme ele altera essas notas, e, entede-se então que ele está chegando na sua resposta. a cena final, que é totalmente elucidativa, é a resposta da nota, Max não precisa mais buscar nada.
Fora a carga filosófica do filme, a estética é também incrivel, Aronofsky usa recursos de influencia surrealista, que ajudam a manter a "espiralidade" do filme, que é o simbolo do padrão matemático, e tudo caminha por esse padrão, a loucura da personagem, o desenvolvimento, a sua busca, etc.

Já em Cisne Negro o elemento mais bem colocado na minha visão, é o papel da mãe de Nina, que é nos revelado ao longo do filme, inicialmente, uma mãe que apoia a filha na carreira rigida de bailarina, cuidando da sua alimentação e seu preparo fisico. mas, ao longo do enredo, o papel materno revela-se um dos causadores da loucura de Nina, o conservadorismo, o peso imposto pelo fracasso da mãe que também era uma bailarina, frustrada pelo tempo e o envelhecimento, enfim, toda uma série de fatores que nos são apresentados de maneira excepcional e que nos gera um exercício piscológico fantástico. talvez eu esteja cometendo um pecado que é resumir tais filmes em poucos parágrafos, principalmente Pi que virou um de meus filmes favoritos, e que devem ser assistidos por todos os que procuram bom cinema, filosofia, boa arte.

Um comentário:

  1. Quanta genialidade, você é muito bom! Mais uma vez sendo minucioso e detalhista... Muito bom mesmo!

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